Reforma trabalhista já prejudica trabalhadores, conheça alguns casos

Sancionada em julho deste ano por Michel Temer (PMDB), a "reforma" trabalhista, que introduziu mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), passou a valer no dia 11 de novembro, e já vem afetando trabalhadores pelo país.

Alguns dos 117 pontos da legislação alterados já estão sendo adotados por empresas que buscam adequar seus contratos de trabalho, com o objetivo de reduzir seus gastos com trabalhadores. Paralelamente, funcionários já vêm se mobilizando contra esta perda de direitos, como a diminuição de salários e benefícios.

Apesar disso, o governo está aproveitando as mudanças para melhorar sua imagem, anunciando a diminuição do número de desempregados no país desde a aprovação da reforma, utilizando números inflados.

Diante desse cenário, o Brasil de Fato produziu uma lista com todas as situações em que, em menos de um mês, a reforma trabalhista já prejudicou os trabalhadores.

Confira a lista completa:

Vagas intermitentes

Entre as mudanças da reforma trabalhista que estão sendo mais condenadas pela oposição, está a jornada intermitente, tipo de contrato que permite que o trabalhador fique à disposição do empregador para trabalhar e receber apenas quando for chamado. Na prática, a medida possibilita que o salário mensal do trabalhador seja menor do que o salário mínimo, o que vem levantando uma série de questões, resolvidas através de medidas ainda mais polêmicas.

Com uma remuneração inferior ao salário mínimo, os trabalhadores correm o risco de ficar sem direito à aposentadoria, uma vez que o recolhimento para a Previdência Social ficaria menor do que o aceito pelo INSS. Para contornar a questão, a Receita Federal divulgou, neste mês, novas regras que possibilitam que empregados no regime intermitente paguem 8% sobre a diferença entre o salário recebido e o mínimo, o que significa que os trabalhadores teriam que pagar para trabalhar e ter direito à aposentadoria.

A reforma trabalhista também proíbe o acesso ao seguro-desemprego para trabalhadores contratados na jornada intermitente. Isso porque, diante da inconstância desse tipo de trabalho, o trabalhador trocaria muitas vezes de contrato, ficando desempregado por diversos períodos.

Vagas temporárias

As mudanças colocadas pela reforma trabalhista também estão influenciando o aumento de vagas temporárias. Com a extensão do prazo máximo e contratação de 90 dias, renováveis, para 120 dias, avalia-se que mais empresas estão abrindo vagas temporárias neste final de ano, principalmente no setor de comércio.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que cerca de 73 mil pessoas serão contratadas temporariamente para as festas de fim de ano em 2017, o que representa 10% a mais do que o ano passado.

O formato de trabalho, que já é considerado precarizado, uma vez que os empregados contratados são demitidos após o fim do período de festas, prejudicaria ainda mais o trabalhador se for somado ao contrato intermitente. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 90,236 milhões de trabalhadores no Brasil, 20,057 milhões são trabalhadores dos serviços e vendedores do varejo.

Redução da remuneração em domingos e feriados trabalhados

Pouco mais de um mês depois da sanção da Reforma Trabalhista, Temer assinou um decreto que tornou a atividade dos supermercados essencial da economia. Na prática, a medida, aliada às mudanças da reforma, abriu caminho para que as empresas desse setor não sejam mais obrigadas a pagar 100% de horas extra por domingos e feriados trabalhados.

Em outubro, o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro assinou um acordo na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) possibilitando a substituição de adicional nos feriados por uma ajuda de custo fixa de R$30. Diante das mudanças, a rede de supermercados Mundial, uma das maiores do Rio de Janeiro, realizou cortes de até R$700 no pagamento de seus funcionários, garantindo o pagamento de horas extras através de um vale-refeição que só pode ser usado na própria rede.

No dia 6 de novembro, mais de 9 mil funcionários entraram em greve pela manutenção de seus direitos, em pelo menos seis unidades da rede. Após a mobilização, o supermercado voltou atrás em relação aos domingos.

Processos Trabalhistas

Nem mesmo os processos trabalhistas estão se salvando da reforma de Temer. No mesmo dia que as mudanças entraram em vigor, o juiz José Cairo Junior, Titular do Tribunal Regional do Trabalhador da 3ª Região, em Ilhéus (BA), condenou um ex-funcionário ao pagamento de R$ 8.500 por perder uma ação trabalhista. Em sua decisão, o juiz citou a nova lei.

Com a reforma trabalhista, a gratuidade das ações trabalhistas dependem de algumas regras. No caso, o juiz julgou que o trabalhador agiu de má fé ao pedir uma indenização à empresa, que atua no segmento do agronegócio, por ter sido assaltado a mão armada no trajeto ao trabalho.

No entanto, como o magistrado expressou em sua sentença, de acordo com a nova legislação trabalhista, a empresa não poderia mais ser responsabilizada pelo que acontece com seus funcionários durante o deslocamento para o trabalho. As mudanças na CLT também retiraram o tempo de deslocamento no transporte da jornada de trabalho, mesmo que o local seja de difícil acesso ou fique em outras cidades.

Dados Inflados

Mesmo com todos os prejuízos listados acima, o governo tem ganhado com as mudanças da reforma trabalhista. No último ano, Temer tem anunciado internacionalmente uma suposta diminuição no número de desempregados no país. No entanto, o governo vem sendo acusado de inflar os dados de emprego, somando os trabalhadores que estão em situação de emprego informal.

No começo de novembro, veículos de comunicação divulgaram que a taxa de desocupação teve queda de 0,8% em relação ao trimestre de fevereiro até abril de 2017. Entretanto, dados do IBGE mostram que o número de empregados com carteira de trabalho assinada manteve-se estável em 33,3 milhões de pessoas, mas o número de empregados sem carteira assinada cresceu 4,6% em relação ao trimestre anterior. Em um vídeo publicado em sua conta no Twitter, Temer afirmou que os dados representavam "uma boa notícia" para o país.

Fonte: Brasil de Fato

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